sábado, 11 de agosto de 2007

“Nem cornetas, nem trombetas.”

"O paradoxo do brasileiro é o seguinte. Cada um de nós isoladamente tem o sentimento e a crença sincera de estar muito acima de tudo isso que aí está. Ninguém aceita, ninguém agüenta mais: nenhum de nós pactua com o mar de lama, o deboche e a vergonha da nossa vida pública e comunitária. O problema é que, ao mesmo tempo, o resultado final de todos nós juntos é precisamente tudo isso que aí está. A auto-imagem de cada uma das partes – a idéia que cada brasileiro gosta de nutrir de si mesmo – não bate com a realidade do todo melancólico e exasperador chamado Brasil." (Eduardo Giannetti da Fonseca – Vícios privados, benefícios públicos?: a ética na riqueza das nações).



Como essa é a primeira postagem gostaria de falar de coisas diversas. Fatos e eventos com os quais nos deparamos nos últimos tempos. Falar de várias coisas pode ser mais fácil – não é necessário que se aprofunde em nada não é mesmo? – e mais difícil – quando não se pretende escrever um boletim de fofocas. O fato de tratar de assuntos diversos não conota que sejam distintos e que não estejam interligados. O que se buscará aqui é demonstrar a conectividade entre coisas diversas, assuntos prima facie distintos, mas interligados pelo mesmo fator.
Assistimos recentemente diversas matérias tratando de assuntos que ou nos chocaram ou nos deixaram descontentes com a realidade nacional. Casos como o da trágica morte da criança arrastada pelas ruas do Rio de Janeiro ou da escandalosa agressão à empregada doméstica cometida por jovens de classe média ou ainda pelos indícios de improbidade administrativa realizada pelo presidente do senado federal.
São fatos sociais distintos, de nenhuma forma interligados a princípio, mas que resguardam uma triste questão de fundo : a impunidade presente na sociedade.
A impunidade aparece de forma quase imperceptível em nossos cotidianos, parece não nos afetar diretamente, e pode até não ser o grande dilema dos problemas brasileiros, mas cria a descrença no Estado, na sociedade e nos próprios cidadãos. A impunidade torna aceitável aquilo que seria indesejável e torna permissível aquilo que seria proibido.
Nessa sistemática, o respeito à pessoa humana, o respeito à coisa pública e o próprio respeito caem por terra para dar lugar ao estado de intolerância. Não toleramos uns aos outros, o governo não nos tolera, e alguns agentes políticos não toleram a coisa pública. E assim vamos, tocando o barco, sem saber o que foi feito com os “mensaleiros” sem saber os porquês da violência, sem saber o que fazem nossos governantes – será que queremos mesmo saber?
Por fim - mas não por último – fico feliz em poder abrir este espaço para discussões sobre os “porquês”...
Deixo o brilhante pensamento de Comte-Sponvile para terminar esta primeira postagem:

“Como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra.”